Presença de Lula ao lado de Putin no Dia da Vitória levanta críticas e gera desconforto diplomático
A participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas celebrações do Dia da Vitória ao lado de Vladimir Putin, nesta quinta-feira (8) em Moscou, gerou reações negativas entre analistas e observadores internacionais. Para especialistas ouvidos por veículos da imprensa, o gesto simboliza uma aproximação com um governo considerado autocrático e beligerante, o que entra em conflito com os valores democráticos que o Brasil afirma defender.
A visita acontece no contexto das comemorações pelos 80 anos da derrota da Alemanha nazista pela União Soviética e os Aliados, data de forte peso simbólico na política russa. Tradicionalmente marcada por desfiles militares e discursos nacionalistas, a celebração tem sido utilizada por Putin para reforçar seu poder interno e projetar força no cenário internacional — especialmente em meio à guerra em curso na Ucrânia.
A presença de Lula ao lado do líder russo foi interpretada como um gesto diplomático carregado de significado político.
“Essa escolha de agenda é um recado. Ir à Rússia exatamente neste momento transmite uma sinalização negativa para os parceiros democráticos do Ocidente”, avaliou o economista e analista de política internacional André Perfeito.
Contradição com o discurso democrático
Lula, que foi eleito em 2022 sob o compromisso de fortalecer a democracia brasileira, tem sido criticado por demonstrar proximidade com governos de perfil autoritário, como Rússia e China. A visita a Putin ocorre em um momento particularmente delicado, já que o presidente russo é amplamente responsabilizado pela invasão da Ucrânia, iniciada em 2022, sem provocação, segundo avaliação da maior parte da comunidade internacional.
Ao comentar a presença de Lula em Moscou nesta data simbólica, o analista político Ricardo Rangel afirmou que o gesto pode causar impactos duradouros:
“É uma agressão diplomática direta às democracias europeias. Lula escolheu um momento carregado de significado histórico e político para se associar a um regime autoritário. Isso terá consequências.”
Tentativas frustradas de mediação.
Ao longo de 2023, o governo brasileiro buscou se posicionar como possível mediador no conflito entre Rússia e Ucrânia. No entanto, essas iniciativas não avançaram. Em abril de 2024, durante viagens à China e aos Emirados Árabes, Lula chegou a atribuir parte da responsabilidade pela guerra à Ucrânia, além de criticar o papel de Estados Unidos e União Europeia — falas que provocaram forte reação internacional.
Após a repercussão negativa, o presidente suavizou o tom e reiterou o apoio à integridade territorial da Ucrânia, mantendo, no entanto, a defesa de que negociações de paz devem incluir ambos os lados.
Próxima parada: China
Depois da agenda em Moscou, Lula seguirá para Pequim, onde participará de reuniões do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e de um encontro bilateral com o presidente Xi Jinping.
Embora seja o principal parceiro comercial do Brasil, a China também é alvo de críticas por violações de direitos civis e políticos. A visita de Lula acontece em meio à tensão comercial entre Pequim e Washington, o que acrescenta mais uma camada de complexidade ao giro internacional do presidente brasileiro.
A atuação de Lula ao lado de regimes autoritários em datas de alto simbolismo político tem provocado inquietações tanto entre diplomatas quanto entre aliados democráticos do Brasil. Resta saber como esses movimentos serão interpretados a longo prazo nas relações exteriores do país.
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
 
 



 
 
 
 
 
 
 
 



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