Desemprego avança para 7%, mas mercado de trabalho resiste com alta da renda e queda na informalidade
Mesmo com o aumento na taxa de desemprego no início de 2025, o mercado de trabalho brasileiro segue demonstrando sinais de resiliência. Dados divulgados nesta quarta-feira (30) pelo IBGE revelam que a taxa de desocupação subiu para 7% no trimestre encerrado em março, levemente acima dos 6,8% registrados até fevereiro. Ainda assim, esse é o menor percentual para o período desde que a série histórica da pesquisa começou, em 2012.
O número de pessoas desempregadas chegou a 7,7 milhões, representando um crescimento de 13,1% em relação ao final de 2024. No entanto, essa elevação coincide com um fenômeno sazonal já esperado, marcado pelo encerramento de contratos temporários após as festas de fim de ano e o aumento da procura por trabalho no início do ano.
Apesar da queda na população ocupada — agora em 101,5 milhões — o rendimento médio mensal dos trabalhadores subiu para R$ 3.410, o maior valor registrado desde o início da série, superando o recorde anterior do último trimestre de 2024. Esse avanço de 1,2% no poder aquisitivo evidencia uma transformação no perfil do mercado de trabalho.
Outro dado relevante é a queda no número de trabalhadores informais. Segundo o levantamento, houve redução tanto nos empregados sem carteira assinada quanto nos autônomos sem CNPJ. A formalização tem ganhado terreno, fortalecendo uma camada mais protegida e estável da população economicamente ativa.
A coordenadora de pesquisas do IBGE, Adriana Beringuy, destaca que a retração na ocupação tem sido compensada pela melhora qualitativa no mercado: “Apesar da queda pontual em algumas categorias, a expansão do trabalho formal garante maior estabilidade. Isso dá fôlego à renda média e reduz os impactos negativos de medidas como a elevação da taxa básica de juros”, explica.
Entre os setores que puxaram essa melhora qualitativa estão a indústria e os serviços de tecnologia e administração. Esses segmentos, historicamente ligados a postos de trabalho com melhores salários e maior proteção, vêm ampliando sua participação na composição do emprego nacional.
Economistas apontam que, apesar do cenário atual ainda ser positivo, há riscos à frente. Com a política monetária restritiva mantida pelo Banco Central, a expectativa é de que o ritmo do mercado de trabalho desacelere ao longo de 2025. Ainda assim, Fernando de Holanda Barbosa Filho, do FGV Ibre, acredita que a recente tendência de formalização pode indicar uma mudança estrutural duradoura.
“O crescimento do emprego formal é uma força que impulsiona a renda média. Isso pode sustentar o consumo e manter o mercado de trabalho aquecido, mesmo diante de uma economia com crescimento mais lento. Se essa formalização se consolidar, teremos um cenário mais equilibrado no longo prazo”, avalia.
O governo, por sua vez, tem atuado com políticas fiscais que estimulam a atividade econômica e podem estar atenuando os efeitos do aperto monetário. Segundo Barbosa Filho, essa combinação pode manter a economia em funcionamento, mas com um custo: a pressão sobre os preços.
O panorama, portanto, é de um mercado que resiste às turbulências macroeconômicas, ainda que sinais de cautela comecem a aparecer no horizonte.
 
 



 
 
 
 
 
 
 
 



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